Quando engravidei em 2009 (eu) achava que para ter um filho de parto normal bastava ter esse desejo. Eu morava em Ouro Branco, mas meu filho nasceria em Belo Horizonte. Fiz pré-natal com duas médicas, uma em cada cidade. As duas sempre se mostraram favoráveis ao meu desejo de ter um parto normal, no entanto, eram evasivas nas respostas às perguntas que eu fazia sobre parto e no fim da gestação comecei a perceber que sem o apoio real de um médico eu não conseguiria parir meu filho.
Fui diagnosticada com diabetes gestacional e a médica que me acompanhava em Ouro Branco tentou me induzir a fazer uma cesariana, alegando que trinta e nove semanas de gestação já eram suficientes e que eu deveria considerar marcar uma cirurgia já que “era perigoso esperar mais”. A médica que me acompanhava em Belo Horizonte em momento algum falou em marcar cesárea, mas quando eu perguntava sobre posição para parir, esperar o cordão parar de pulsar para cortar, ela se mostrava intervencionista. Percebi que o máximo que eu conseguiria com esta médica seria um parto normal “anormal”, cheio de intervenções, quando comentei com ela que não queria epsiotomia (corte que é feito na vagina) e ela me respondeu que eu ficaria “toda rasgada” se não fizesse o corte.
Eu já vinha estudando sobre fisiologia de parto a gestação inteira e essa resposta só me fez perceber que eu precisava encontrar um médico favorável ao parto e que atuasse baseado em evidências científicas. Pesquisei no google “parto humanizado BH” e encontrei o Núcleo Bem Nascer, atualmente Instituto Nascer escolhi uma médica (Quésia) e passei a trocar e-mails com ela.
Com 39 semanas passei pela última consulta com a médica de Ouro Branco (que, aliás, aproveitou para intervir fazendo descolamento de membranas sem nem ao menos me comunicar, comprovando que sua conduta era mesmo intervencionista) e vim a Belo Horizonte, abandonando as duas médicas que haviam me acompanhado durante o pré-natal e que em nada haviam contribuído para a construção do meu parto. Contratei a Quésia do Instituto Nascer para me acompanhar.
Depois do descolamento de membranas feito pela médica de Ouro Branco eu entrei na fase latente do trabalho de parto e essa fase foi intensa e dolorosa. Contrações com pouco tempo de intervalo muito doloridas que me impediam de comer ou dormir. Dois dias após o início da fase latente eu não tinha mais forças e pedi a minha nova médica que interviesse. Logo eu que queria tanto um parto natural precisei lidar com a mudança de planos, o desconhecido, tomei analgesia e fiz uso de ocitocina sintética para o trabalho de parto ativo engrenar. Após a internação, meu filho nasceu em algumas horas. Eu optei no final, no período expulsivo (que é aquele em que empurramos o bebê para nascer), por não tomar analgesia para que eu pudesse ajudar da melhor forma meu filho a vir ao mundo.
Samuel nasceu em um parto de cócoras, sendo que eu fui sustentada pelo meu marido (meu relato de parto foi divulgado no site do Instituto Nascer). O parto foi algo inexplicável, transformador, é um momento de muito poder e se vivenciado com respeito e carinho representa muito do sagrado feminino. O neonatologista de plantão respeitou meu plano de parto e o cordão só foi cortado após parar de pulsar, Samuel me foi entregue assim que nasceu e mamou na primeira hora de vida, como é recomendado. Minha recuperação foi excelente e eu me senti muito, mas muito poderosa. Como eu disse é algo inexplicável... Só vivenciando para entender... No hospital estranhei que a equipe estivesse tão mal preparada para um parto normal. Aliás, toda a equipe veio assistir ao parto como se o que aconteceu fosse algo raro de se ver... E depois eu vim a descobrir que naquele hospital era raro mesmo!
Tive alguns contratempos com os cuidados com o recém-nascido no hospital, condutas intervencionistas e desnecessárias como a ‘obrigação’ que havia do bebê ficar horas em um berço aquecido, mesmo aqueles bebês que nasceram muito bem como o Samuel. Voltei para casa logo e a amamentação foi um sucesso!
Passados alguns meses, uma amiga do Rio de Janeiro teve uma cesárea desnecessária com 35 semanas em Manaus, procedimento que colocou a vida da filha dela em risco pela prematuridade da bebê. Esta amiga criou um grupo no facebook chamado “Parto Natural” tendo essa amiga me adicionado pelo simples fato de que dentre as muitas amigas que ela tinha eu era uma das poucas que havia conseguido ter um parto normal.
Neste grupo, conheci ativistas de todo o Brasil e consegui finalmente entender como funciona o nosso sistema obstétrico, aprendi sobre indicações falsas e verdadeiras de cesariana (divulgadas no blog “Estuda Melânia, estuda!” de uma médica humanizada delas), conheci doulas e o significado de seu trabalho (do trabalho delas), descobri que há grupos de apoio ao parto espalhados por todo o Brasil, aprendi que médicos humanizados são raros... Enfim, descobri o caminho que é preciso percorrer para parir em paz.
O grupo Parto Natural não para de crescer (tem mais de 2.400 membros) e atualmente é uma rede de apoio às mulheres que desejam ter um parto respeitoso e baseado em evidências científicas. Eu sou uma das moderadoras do grupo e tenho muito orgulho disso! Cada parto que acontece comemoro como uma grande vitória, pois é mais uma mulher rompendo com o sistema vigente e buscando um atendimento respeitoso e baseado no que preconiza a Organização Mundial da Saúde. No Grupo Parto Natural conheci os grupos de apoio de Belo Horizonte, “Ishtar” e “ONG Bem Nascer” rede de apoio à mulher que deseja parir.
Do envolvimento com os grupos me tornei ativista e só me dei conta disso quando participei da Audiência Pública sobre Violência Obstétrica que aconteceu na Assembleia Legislativa e eu quis dar o meu depoimento de que não basta querer parir, é preciso muito mais do que isso. É preciso conhecer e entender o modelo vigente, conhecer o próprio corpo e saber sobre fisiologia do parto. É preciso frequentar grupos de apoio e acima de tudo ter o acompanhamento de uma equipe verdadeiramente comprometida.
O tema violência obstétrica começa a aparecer na mídia. Em Belo Horizonte foi proposta a primeira ação judicial que versa sobre o tema e agora chega aos cinemas o documentário “O Renascimento do Parto”. No documentário é explicado como funciona o modelo obstétrico atual, marcado por um número alarmante de cesáreas (com todas as suas consequências como a prematuridade iatrogênica) ou por partos cheios de intervenções desnecessárias e traumáticas que fazem que o parto seja algo extremamente violento. Tudo isso em contraponto ao que é recomendado pelas atuais evidências científicas e referendadas pela Organização Mundial de Saúde.
O documentário chegou aos cinemas com financiamento coletivo principalmente de pessoas e instituições ligadas ao movimento de humanização do parto. Vale a pena ver o filme para entender como funciona o sistema obstétrico e também para compreender como algo que é natural e intrinsicamente feminino tornou-se um evento médico, enfim de como a mulher foi perdendo sua força e poder sobre o nascimento de seus filhos.
Para aquelas mulheres que desejam ter seus filhos de parto normal, além de ver o filme, procurem pelos grupos de apoio em suas cidades e grupos como o Parto Natural. O filme ficará em cartaz, em princípio, de 23 a 29/08/2013 no Usiminas Belas Artes e no dia 24, às 10h, haverá sessão gratuita comentada com a presença de vários profissionais da área da saúde. Vamos?
Depois do descolamento de membranas feito pela médica de Ouro Branco eu entrei na fase latente do trabalho de parto e essa fase foi intensa e dolorosa. Contrações com pouco tempo de intervalo muito doloridas que me impediam de comer ou dormir. Dois dias após o início da fase latente eu não tinha mais forças e pedi a minha nova médica que interviesse. Logo eu que queria tanto um parto natural precisei lidar com a mudança de planos, o desconhecido, tomei analgesia e fiz uso de ocitocina sintética para o trabalho de parto ativo engrenar. Após a internação, meu filho nasceu em algumas horas. Eu optei no final, no período expulsivo (que é aquele em que empurramos o bebê para nascer), por não tomar analgesia para que eu pudesse ajudar da melhor forma meu filho a vir ao mundo.
Samuel nasceu em um parto de cócoras, sendo que eu fui sustentada pelo meu marido (meu relato de parto foi divulgado no site do Instituto Nascer). O parto foi algo inexplicável, transformador, é um momento de muito poder e se vivenciado com respeito e carinho representa muito do sagrado feminino. O neonatologista de plantão respeitou meu plano de parto e o cordão só foi cortado após parar de pulsar, Samuel me foi entregue assim que nasceu e mamou na primeira hora de vida, como é recomendado. Minha recuperação foi excelente e eu me senti muito, mas muito poderosa. Como eu disse é algo inexplicável... Só vivenciando para entender... No hospital estranhei que a equipe estivesse tão mal preparada para um parto normal. Aliás, toda a equipe veio assistir ao parto como se o que aconteceu fosse algo raro de se ver... E depois eu vim a descobrir que naquele hospital era raro mesmo!
Tive alguns contratempos com os cuidados com o recém-nascido no hospital, condutas intervencionistas e desnecessárias como a ‘obrigação’ que havia do bebê ficar horas em um berço aquecido, mesmo aqueles bebês que nasceram muito bem como o Samuel. Voltei para casa logo e a amamentação foi um sucesso!
Passados alguns meses, uma amiga do Rio de Janeiro teve uma cesárea desnecessária com 35 semanas em Manaus, procedimento que colocou a vida da filha dela em risco pela prematuridade da bebê. Esta amiga criou um grupo no facebook chamado “Parto Natural” tendo essa amiga me adicionado pelo simples fato de que dentre as muitas amigas que ela tinha eu era uma das poucas que havia conseguido ter um parto normal.
Neste grupo, conheci ativistas de todo o Brasil e consegui finalmente entender como funciona o nosso sistema obstétrico, aprendi sobre indicações falsas e verdadeiras de cesariana (divulgadas no blog “Estuda Melânia, estuda!” de uma médica humanizada delas), conheci doulas e o significado de seu trabalho (do trabalho delas), descobri que há grupos de apoio ao parto espalhados por todo o Brasil, aprendi que médicos humanizados são raros... Enfim, descobri o caminho que é preciso percorrer para parir em paz.
O grupo Parto Natural não para de crescer (tem mais de 2.400 membros) e atualmente é uma rede de apoio às mulheres que desejam ter um parto respeitoso e baseado em evidências científicas. Eu sou uma das moderadoras do grupo e tenho muito orgulho disso! Cada parto que acontece comemoro como uma grande vitória, pois é mais uma mulher rompendo com o sistema vigente e buscando um atendimento respeitoso e baseado no que preconiza a Organização Mundial da Saúde. No Grupo Parto Natural conheci os grupos de apoio de Belo Horizonte, “Ishtar” e “ONG Bem Nascer” rede de apoio à mulher que deseja parir.
Do envolvimento com os grupos me tornei ativista e só me dei conta disso quando participei da Audiência Pública sobre Violência Obstétrica que aconteceu na Assembleia Legislativa e eu quis dar o meu depoimento de que não basta querer parir, é preciso muito mais do que isso. É preciso conhecer e entender o modelo vigente, conhecer o próprio corpo e saber sobre fisiologia do parto. É preciso frequentar grupos de apoio e acima de tudo ter o acompanhamento de uma equipe verdadeiramente comprometida.
O tema violência obstétrica começa a aparecer na mídia. Em Belo Horizonte foi proposta a primeira ação judicial que versa sobre o tema e agora chega aos cinemas o documentário “O Renascimento do Parto”. No documentário é explicado como funciona o modelo obstétrico atual, marcado por um número alarmante de cesáreas (com todas as suas consequências como a prematuridade iatrogênica) ou por partos cheios de intervenções desnecessárias e traumáticas que fazem que o parto seja algo extremamente violento. Tudo isso em contraponto ao que é recomendado pelas atuais evidências científicas e referendadas pela Organização Mundial de Saúde.
O documentário chegou aos cinemas com financiamento coletivo principalmente de pessoas e instituições ligadas ao movimento de humanização do parto. Vale a pena ver o filme para entender como funciona o sistema obstétrico e também para compreender como algo que é natural e intrinsicamente feminino tornou-se um evento médico, enfim de como a mulher foi perdendo sua força e poder sobre o nascimento de seus filhos.
Para aquelas mulheres que desejam ter seus filhos de parto normal, além de ver o filme, procurem pelos grupos de apoio em suas cidades e grupos como o Parto Natural. O filme ficará em cartaz, em princípio, de 23 a 29/08/2013 no Usiminas Belas Artes e no dia 24, às 10h, haverá sessão gratuita comentada com a presença de vários profissionais da área da saúde. Vamos?