Cecília nasceu de cesárea quando estava com 38 semanas (talvez 36 semanas, como descobri pelo filme). Mas, a minha história com a cesárea começou bem antes disto. Lembro-me de um comentário médico em uma consulta de rotina com a ginecologista _ quando comentei sobre meu desejo de engravidar_ que não saia da minha cabeça: "você não tem passagem para o parto normal". Quando fiquei grávida, esta afirmativa se juntou ao medo de que algo pudesse dar errado. Na época, eu ajudava uma instituição que assistia a várias crianças com inúmeras síndromes, e muitas vezes ouvia relatos infundados dos partos por parte das pessoas com quem convivia no local. Na primeira consulta pré-natal, cheguei ao consultório da obstetra decidida pela cesárea, e qual não foi a minha surpresa ao ouvir o seguinte conselho (*sic): "não posso criticá-la, pois também escolhi cesárea para ter meu filho, tinha pavor de pensar em sentir dor"; "a cesárea é ruim para recuperação da mãe, mas é muito boa para o bebê, afinal, as chances de dar errado, são bem menores". Sim, esta foi a orientação que recebi na 4ª semana de gestação. Após a consulta eu tinha a certeza que havia feito a melhor escolha para mim e para o meu bebê. Segui durante toda a gestação sem a preocupação de me informar a respeito de outras opções, fugia das conversas sobre parto normal. No decorrer da gravidez, precisei sair de licença no oitavo mês e iniciei o acompanhamento semanal para evitar o parto prematuro. No último ultrassom, o médico que me acompanhava destacou sobre o cordão estar enrolado com duas voltas no pescoço. Na consulta seguinte, a GO já agendou a cesárea, e ainda ressaltou a importância de contratarmos um médico extra para auxiliá-la, uma vez que esta condição colocaria a vida de minha filha em risco. No final, tudo correu bem.
Porém, o princípio de tudo é a informação. Após assistir ao filme, identifiquei alguns dos vários "mitos" usados como justificativa para a realização da cesárea na história de gestação da Cecília. Fiquei acomodada à orientação médica e não busquei outras opiniões, não pesquisei. Nem mesmo as críticas que ouvi de algumas pessoas sobre a "cesárea eletiva"(que depois se transformou em "cesárea recomendada"), me motivaram a buscar informações sobre outras opções. Sai da sessão envergonhada. Afinal, sempre pesquisei muito para tomar uma decisão e, para o nascimento da minha filha, não. Talvez, a cesárea seria realmente o melhor parto para Cecília naquele momento, mas, acredito que eu deveria, lá na primeira consulta e durante toda a gestação, ter questionado mais a respeito da forma como minha filha nasceria.
Em uma futura gestação, pretendo fazer diferente. E é por isso, que faço o convite para que as famílias leitoras do Na pracinha assistam ao filme. O princípio é a informação. Entenda sobre a fisiologia do parto, sobre as formas de nascer, sobre as interferências que são feitas (durante e pós parto), sobre os mitos. Veja porque é tão importante que a mãe entre em trabalho de parto, como é fundamental o bebê não ser separado da mãe logo após nascer e prepare-se para um parto humanizado, onde o corpo e a mente trabalham ativamente, e a mãe é sujeito no nascimento do seu filho, não objeto.
O filme também nos mostra como precisamos lutar para ter uma consulta pré-natal de qualidade, com possibilidade de conversa entre paciente e médico, não apenas 15 minutos para uma checagem rápida. Como é importante termos mais e mais hospitais preparados para o parto normal ou natural, como as equipes médicas devem respeitar as escolhas das mulheres, como a sociedade precisa ser menos preconceituosa e não julgar sem embasamento. E como, infelizmente, nosso país vive uma epidemia de cesáreas.
Para as mamães de cesárea, não somos menos mães por isso, mas precisamos entender como é possível ter um parto menos anormal. "A ideia não é a criança nascer e a mãe sobreviver ao parto, mas nascer com qualidade, como um momento saudável para mãe e filho". E o maternar é um constante aprendizado, não é mesmo?
Não existe escolha sem informação.
Agradeço ao Ishtar BH, ao Instituto Nascer, a ONG Bem Nascer, a Gabi Salit do Dádádá, pelo convite ao Na pracinha para participar da sessão comentada.
Sobre "O Renascimento do parto"
O filme de Eduardo Chauvet e Érica de Paula, o Renascimento do Parto, denuncia os mitos que sustentam a prática excessiva de cesarianas e outras intervenções durante o parto que não têm sustentação científica
Apoio ao parto normal em BH:
* Ishtar Espaço para gestante: http://ishtarbh.blogspot.com.br/
* ONG Bem Nascer: http://www.bemnascer.org.br/
Movimento BH pelo parto normal: http://bhpelopartonormal.pbh.gov.br/
Instituto Nascer: http://www.nucleobemnascer.com.br/home
Parto do Princípio: http://www.partodoprincipio.com.br/* Ishtar Espaço para gestante: http://ishtarbh.blogspot.com.br/
* ONG Bem Nascer: http://www.bemnascer.org.br/
Movimento BH pelo parto normal: http://bhpelopartonormal.pbh.gov.br/
Instituto Nascer: http://www.nucleobemnascer.com.br/home
* Promovem encontros presenciais gratuitos para apoio às gestantes
Onde assistir?
Usiminas Belas Artes
R. Gonçalves Dias, 1581 - Belo Horizonte / MG