De repente eu cheguei a uma idade em que já não gostava mais de beijar minha mãe na frente dos outros. Não me lembro exatamente quantos anos tinha, mas lembro que adorava ficar grudado com ela e com meu pai dentro de casa, mas não mais na frente dos outros.
Talvez fosse uma vontade de me libertar daquele tratamento de beijinhos e abraços destinados a crianças quando eu precisava me mostrar como homem diante dos amigos.
O fato é que havia um grande medo de ser o “filhinho da mamãe”. Lembro inclusive uma vez em que encontrei meu pai e ele, como sempre, me cumprimentou “e aí, filhão” e eu respondi “e aí, paizão”. Bastou. Aquilo virou piada para a turma como se chamar o pai de paizão fosse um ato de alguém dependente, longe ainda do ideal adulto que imaginávamos.
Por isso eu me delicio com a leveza da Sophia junto comigo. Se eu escondia dos meus pais quando disputava um torneio por medo que eles aparecessem, ela faz questão de acenar pra mim do ballet e do circo e exigir minha presença, carinho e atenção integral.
Acho que tem aí uma pista sobre do motivo de eu chorar em toda e qualquer apresentação dela. Obviamente tem aquela emoção e orgulho de pai, mas acho que a receita conta também com um arrependimento por ter sido tão tolo e não ter demonstrado em público o amor que eu sentia pelos meus pais naquela época.
Deveria tê-los abraçado, chamado para qualquer evento que eu participasse, exibido-os orgulhosamente em cada canto. Não fiz na época, faço hoje.
Talvez não baste, mas é o que me resta, mostrar meu amor, meu carinho e meu agradecimento para que Sophia veja isso como algo normal e não precise, um dia, recusar um beijo meu na frente de alguém.