Assim como as brincadeiras, os contos de fada fazem parte da infância e têm um papel importante para o desenvolvimento emocional da criança. Através deles são passados ensinamentos morais e éticos, além de estimular a criatividade, a imaginação e o amadurecimento psíquico.
Não se sabe ao certo onde e como os contos surgiram. Sabe-se que são histórias que foram passadas de pais para filhos durante muitos anos e que eram bem trágicas. Como não havia registro escrito, há alguns contos com várias versões. Mudam-se alguns detalhes, mas normalmente a moral da história é a mesma. Charles Perrault, no século XVII, e os irmãos Grimm, no século XIX, resolveram registrar estas histórias e adaptá-las ao mundo infantil, ou seja, diminuindo o lado trágico e exaltando a bondade e o final feliz.
Mas mesmo com as adaptações feitas em quase todos os contos de fada, há partes tristes, trágicas e que podem gerar medo nas crianças. E ainda bem que é assim, pois os contos têm como objetivo retratar os sentimentos e as situações que as crianças enfrentarão no seu dia-a-dia.
Através dos contos, as crianças descobrem que:
• Nem todas as pessoas são boas;
• Não se pode confiar em todo mundo;
• As pessoas são diferentes - umas são magras, outras gordas; umas altas outras baixas; mas, independente de sua aparência, elas são únicas e podem tanto ser boas, quanto ruins;
• As pessoas mentem e isso não é legal;
• Algumas pessoas não gostam de vê-las felizes e sentem inveja;
• As pessoas amadas e boas também morrem;
• É importante saber esperar, tudo na vida tem um tempo;
• Amar é bom;
• Todo mundo pode sentir raiva;
• Mesmo com tristeza, falsidade, inveja, mentiras ou ladrões, ainda assim deve-se lutar para ser feliz.
Ou seja, com os contos de fada, as crianças conseguem, na linguagem delas, estruturar suas emoções,
tornando-se seres mais seguros, criativos e felizes.
Há alguns especialistas dizendo que deve ser retirado das histórias tudo aquilo que gere algum risco emocional para as crianças. A meu ver, isso é um exagero, pois não temos como retirar o sofrimento e a maldade da vida de ninguém. É melhor conhecê-los, primeiramente em uma história em que os pais, professores e cuidadores poderão conversar sobre aquilo, do que lidar com um fato real, onde muitas vezes não haverá como explicar para a criança. Isso pode gerar um sofrimento muito maior, pois o que não é conhecido, é muito mais assustador.
Normalmente, as crianças se identificam com os bonzinhos e temem os maus. Se a criança apresentar um medo exagerado sobre os personagens, é importante os pais investigarem se não há algo a perturbando. E conversar muito sobre a diferença do bom e do ruim. Reforçar que na vida a gente lida sempre com todo tipo de gente, de situações e de sentimentos. E que o importante é a gente ser o que a gente é. Com os nossos valores, características e caráter.
Reforço aqui que esta questão de bom e mau e dos valores é muito particular, cada família tem a sua posição e não raro, as crianças vão chegar em casa relatando que para o coleguinha algo que
ela considera errado, é certo. E aí, vale mais diálogo, sempre levando-a a refletir, tentando ao máximo não impor algo, pois ela não é você e fará as próprias escolhas.
Mas, e se a criança não gosta dos bonzinhos e só se identifica com os vilões? A princípio, não há com o que se preocupar, pode ser apenas uma identificação que gera um alívio emocional em saber que há momentos em que ela pode sentir raiva. Pode ser também só para ser diferente e chamar a atenção dos pais. Mas, se a identificação for além destes pontos e passar a ser uma distorção dos valores, aí é necessário uma boa conversa e talvez até de uma ajuda profissional.
Enfim, os contos de fada estão aí para alegrar e desenvolver nossos filhos. Então, vamos incentivar e acolher os pedidos para contar uma história antes de dormir ou a qualquer hora do dia, pois, nós todos vamos sair ganhando!
Imagens: Favim.com